Certa vez li uma frase que me agrado muito e me fez ter a certeza de algo que a muito eu já idealizava. Minha principal tese a respeito da sociedade é que ela era uma mulher de muitos homens, e que procurava agradar a todos de forma mentirosa e desonesta. Bem, todos nós que vivemos na sociedade temos regras a serem obedecidas assim como a mulher de muitos homens tem regras para que seus homens nunca se encontrem e jamais saibam de sua desonestidade. A sociedade também é assim, possui regras para que todos vivam em harmonia, mas sem saber da verdadeira face da mesma.
Quantos de nós, seres civilizados, não vivemos de acordo com tais regras?! Praticamente todos. E por acaso ousamos discutir tais regras? Nunca! Os poucos que resolvem não viver como todos são chamados de loucos, e com razão. Aquele que possui comportamento diferenciado dos demais é considerado louco e insano. Perdão, mas sou louca. Como posso contribuir com uma sociedade mentirosa e fingidora?! Todos os zumbis de um Estado ou de uma entidade. Todos alienados pelo mundo, pela moda, pelo dinheiro. Poucos se importam com o que o vizinho sente ou precisa, mas se importa quando a mulher apanha do marido, quando o homem é corno, quando a menina “se perde”, enfim, que sociedade é essa?! Eu não faço a mínima questão de fazer parte desse teatro, dessa peça mal elaborada onde todos vivem o que possuem de melhor e compartilham o pior.
A mediocridade humana chega ao extremo em alguns momentos. Certa vez eu estava em um ambiente público e chegou uma mulher de meia idade pedindo dinheiro. Eu falava no celular quando ela se aproximou e sem hesitar me pediu dinheiro. Pedi licença à pessoa que falava ao celular e me dirigi a ela. Abri minha bolsa, tirei minha carteira e dei-lhe algumas moedas, justificando-me que era apenas uma estudante e por isso dar tão pouco. Ela entendeu muito bem, agradeceu e saiu me deixando com sua bênção de Deus. Voltei ao celular, mas por pouco tempo. Um pouco mais adiante a mesma mulher estava sendo empurrada e arrastada por alguns seguranças do local. Alegavam tentativa de roubo. A mulher gritava e dizia que estava apenas pedindo e que se quisesse roubar já teria roubado. Neste momento eles passavam ao meu lado. A mulher olhou pra mim e disse que poderia roubar qualquer um que estivesse ali, mas nunca me roubaria porque eu não tinha medo dela.
O que eu quero dizer com isso é que a sociedade cria seus próprios inimigos, e o pior é que esses são da própria sociedade, apenas estão à margem. A algum tempo atrás quando eu via uma pessoa sendo roubada eu tinha raiva do ladrão e apoiava o que tinha sido roubado. Hoje, percebo que aquele que foi roubado mereceu. É, isso mesmo, mereceu. O preconceito, a raiva, a revolta, tudo isso é algo que a sociedade cria pra marginalizar pessoas que não tiveram tantas oportunidades como eu ou você que está lendo esse texto. São pessoas que estão à margem da sociedade, e tem medo de voltar a ser como os outros por ser pobre, negro ou ter cumprido pena em algum presídio por um roubo de celular. Todas essas pessoas são honestas, mas a sociedade é honesta com elas?!
Imagine que você está na rua por volta de meia noite. Sentada numa calçada conversando com seu namorado e com os celulares na mão. Aproximam-se dois homens com roupas gastas e negros. Qual seria sua reação? Daria boa noite? Ao menos levantaria a cabeça para olhar pra eles? Ou jogaria os celulares no meio das pernas pra que eles não vissem? Ah, não. Acho que se você fosse uma pessoa um pouco mais nervosa jogaria os celulares nos pés dos homens pedindo que não fizessem nada.
Podem até rir, mas é isso que acontece e o que você faria ou como ficaria se tivesse no lugar deles. Voltando do trabalho pesado durante todo o dia. Preocupados com o que ia dar aos filhos quando chegassem em casa. Certo, que nem todos são assim, mas inicialmente são. E diante de uma cena desta, até eu me revoltaria. Chegaria um momento que eu ia cansar de ser julgado sem fazer nada, sendo inocente. Não é fácil ser julgado por algo que não fazemos, ser intitulado de algo que não somos, e é assim que a maioria dos pobres e negros sentem.
Eu tento me sentir como eles se sentem, mas é difícil pensar numa situação a qual nunca passamos. Portanto, pense bem antes de demonstrar medo de alguém, você pode estar marginalizando mais alguém, e criando seu próprio ladrão.
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